Esta semana não sei o porquê, mas
me lembrei de um senhor que conheci há muitos anos atrás cujo nome era Sr.
Braulino. Era um oficial de marinha reformado. Por esta época eu morava numa
rua sem saída que tinha exatas sete casas de cada lado e uma no final da rua
que para acessar tínhamos que atravessar um pequeno córrego. Não me recordo por
quanto tempo morei ali, mas foram anos muito especiais. Na primeira casa lado
direito morava o Sr. Braulino com a mulher e dois filhos pequenos. Ele já devia
ter por volta dos sessenta anos, mas os pequenos tinham uns quatros ou cinco
anos no máximo. Bons tempos. A casa dele tinha um muro baixo ladeado por um
gramado muito bem cuidado. Às tardes ele vinha para a beira do muro e nós –
todos adolescentes, nos juntávamos à sua volta para bater papo. Como era de se
prever o velho marinheiro sempre tinha uma história para contar. Ali ficávamos
até por volta das vinte e duas horas e obviamente sem nenhuma pressa. Como
esquecer esta época – impossível!
Cora Coralina disse certa vez
que; “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Braulino
que hoje se estiver vivo tem por volta de cem anos certamente era muito feliz e
nós, a considerar minhas lembranças éramos feliz também. Naquela época não
existia internet e as relações eram necessariamente pessoais. Inconcebível hoje
um adolescente “perdeu” tempo com um “velho” contador de histórias. Coralina
teria que reescrever sua ideia de transmissão de conhecimento. Se perdemos ou
não ainda é cedo para afirmar, mas por certo as relações hoje ditas digitais
perdem pela falta de calor e emoção em relação àquelas. Olhar nos olhos, ouvir
a voz, sentir o calor do corpo e perceber as expressões e gestos enriqueciam
por demais as relações. Tudo aquilo deixava marcado de forma indelével em nosso
coração os ensinamentos e as experiências vividas e compartilhadas. Oxalá
descubramos uma fórmula para humanizar as Redes Sociais que hoje têm a função
de manter as pessoas “antenadas” umas às outras. Que ao sentarmos diante das
máquinas possamos perceber o outro à nossa frente e tratá-lo com a dignidade,
respeito e porque não a ternura necessária.
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